domingo, 4 de dezembro de 2011

Porque sonhamos?

O sonho é uma experiência que possui significados muito distintos, especialmente se esta interpretação envolver as diferentes religiões, culturas e até a ciência. Para a ciência, mais precisamente a Psicologia, o sonho será a imaginação do inconsciente durante o nosso período de sono. Recentemente, descobriu-se que até os bebés no útero têm sono e sonham, mas não se sabe com quê, devido ao facto de eles não terem vivido fora do útero, e assim, não terem experiência alguma. Em diversas tradições culturais e religiosas, o sonho aparece revestido de poderes premonitórios ou até mesmo de uma expansão da consciência. De facto, esta questão dos sonhos, já há muito que se vem a discutir, pois, todos nós sonhamos, e temos em média três sonhos por noite, o que equivale a cerca de 1100 sonhos por ano, e tantos sonhos devem ter algum significado, alguma razão.

Assim, em 1900, Sigmund Freud causou uma revolução no estudo da mente ao publicar: “A Interpretação dos Sonhos”, onde contestava a noção bíblica de que os sonhos eram fenómenos sobrenaturais, afirmando que derivavam apenas da Psique humana, isto é, da nossa mente. Freud faz também uma distinção entre o conteúdo manifesto do sonho (o que é lembrado, o que é consciente) e o conteúdo latente (os medos, desejos, recalcamentos). Por isso, acreditava que se conseguíssemos decifrar os sonhos, poderíamos entender o que se passa na nossa mente.

Obviamente, estas teorias foram ridicularizadas, não só por irem contra a religião, mas também por não terem qualquer nexo para a sociedade da época. Cem anos mais tarde, estas teorias estão a ser testadas.

A primeira ideia de Freud e confirmada pela ciência, é a de que os sonhos serão restos do dia, ou seja, algo que aconteça durante o dia, fará parte dos nossos sonhos durante a noite. Esta confirmação terá sido feita por dois investigadores da Universidade de Rockefeller, ao observarem que os neurónios mais ativos dos ratos durante o dia, continuavam a estar ativos durante a noite.


Isto significa que, por exemplo, se alguém teve uma experiência marcante durante o dia como um ataque de um leão, a probabilidade de sonhar com isso durante a noite é muito grande, ou então se foi para a guerra durante algum tempo, a probabilidade de continuar a sonhar com essa experiência é igualmente muito elevada. Porém, como na nossa sociedade ninguém tem experiências extremas todos os dias, os sonhos acabam por ser uma mistura de muitas situações que vivenciamos durante o dia.

Podemos levantar agora outra questão, de onde vêm aqueles sonhos estranhos, com situações que nunca nos deparamos, com experiências que nunca vivenciamos, com perigos que nunca experimentamos? 

De onde vêm os sonhos nos quais voamos ou estamos à porta da morte? Para a ciência, tudo isto vem do nosso inconsciente, uma vez que a fase de censura, determinada por Freud, está muito menos ativa, permitindo o acesso ao consciente de pensamentos, imagens, situações vividas ao longo de toda a nossa vida, que se não se manifestassem nos sonhos, nunca deixariam de permanecer no nosso inconsciente.

Durante o sono, o nosso cérebro está assim, com uma elevada atividade, mas não tem as informações sensoriais que nos apresenta o dia-a-dia, como os cheiros, imagens, sons ou outras informações, deste modo, a atividade sensorial está livre e vai até onde quiser, até às memórias mais fortes, ou seja, todos os sonhos que apresentem imagens aparentemente inéditas, tratam-se apenas de combinações de uma série de símbolos que cada um de nós já conhece de outras experiências.

Mas afinal, para que servem os sonhos? Tudo indica que, tanto os sonhos que consideramos bons, como os que consideramos maus, têm a função de simular comportamentos durante o tempo em que estamos acordados, durante os nossos dias. Logo, a sua função deveria ser evitar ações das quais resultassem punições e conduzir àquelas que levassem à concretização de desejos. Por exemplo, uma pessoa tem um sonho no qual é atacada por um cão, depois de ter entrado numa estrada menos movimentada e escura, pois estava de noite e essa estrada tinha uma iluminação muito débil. Assim, e se essa pessoa se lembrar do sonho quando acordar, vai ficar um pouco traumatizada, e quando na vida real se deparar com uma situação idêntica, terá muito mais cuidado e evitará situações de desprazer.

No sonho bom, a pessoa depara-se com uma situação de bem-estar, contentamento e, como tal, durante o próximo dia irá tentar satisfazer esse desejo. O mais curioso é que esta questão combina, de certa forma, com a ideia freudiana de que a função dos sonhos é a satisfação do desejo, teoria que havia sido tornada motivo de chacota nas últimas décadas.

Joaquim Oliveira

1 comentário:

  1. Muito bom Joaquim, acho que qualquer pessoa ja sonhou e percebe que tudo é parecido com a realidade, e uma das suas funçoes é a satisfaçao do desejo, concordo plenamente, continuação de um bom trabalho.

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