Com o desenvolvimento da ciência o ser humano teve oportunidade de alargar os seus conhecimentos e os seus horizontes sobre o mundo que o rodeia, os fenómenos que lhe estão associados e, como é claro, sobre si mesmo. Uma dessas descobertas recai precisamente sobre o modo como se processa a transmissão da informação genética de pais para filhos e de que forma o genótipo – o conjunto de genes individuais de cada ser vivo – define física e intelectualmente cada um de nós. Assim, desenvolveram-se, em torno desta questão, duas teorias sobre as perspectivas da acção genética: Preformismo e Epigénese.
A teoria do Preformismo (formulada em meados do século XVII), defendia que o ovo continha, no seu interior, um ser em miniatura, completamente formado quer fisicamente, quer a nível das suas capacidades cerebrais – o homúnculo. Deste modo, a sua evolução enquanto ser humano limitava-se ao mero crescimento do seu corpo, a uma ampliação das estruturas preexistentes no ovo, não tendo em conta a influência do meio envolvente no indivíduo. Esta conjectura apoiava, assim, que o ser humano era determinado somente por factores genéticos e que, por isso, estava condicionado por um determinismo hereditário. Este facto explica, então, a razão pela qual muitas vezes se vestiam e abordavam as crianças de maneira semelhante à dos adultos, acreditando-se que eram tão desenvolvidos psicologicamente quanto eles. Por sua vez, a Epigénese – que se refere a todas características humanas que não são consequência da informação genética – vem defender uma teoria oposta, sendo negada a hipótese de preformismo (por Caspar Wolff durante o século XVIII). Segundo esta concepção, não existe um ser preformado no ovo, mas sim um ser inacabado que se vai desenvolvendo lenta e gradualmente e cujas características físicas e mentais são construídas a partir da informação patente no genótipo e da sua envolvência no meio que o rodeia. À medida que se desenvolve vai adquirindo novas aptidões que resultam das várias experiências que vive. Ou seja, o genótipo é apenas uma instrução das características que podem ou não manifestar-se.
Como podemos concluir, a visão epigenética sobre a evolução dos indivíduos é mais correcta. Isto porque na realidade os seres humanos nascem inacabados (prematuros e neoténicos), com capacidades muito inferiores àquelas que se evidenciarão em adulto. Tomemos como exemplo um recém-nascido que, durante bastante tempo se mostra incapaz de se deslocar sozinho, de falar e até de comer por si próprio.
Ao contrário do que se verifica nos restantes animais, sofremos um grande inacabamento biológico, o que torna o nosso cérebro único e individual. Sendo incompleto, ele vai depender do meio para se moldar e para se desenvolver, transformando-se em algo flexível e plástico. Não nascemos humanos, vamos construindo o nosso próprio “eu” ao longo de toda a vida. Não existem dois cérebros, nem duas pessoas iguais, pois cada um tem experiências de vida diferentes e singulares.
Luís Lopes
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