O meu interesse pela clonagem despertou quando vi o filme “A Ilha” de Michael Bay, no qual o realizador faz de uma hipótese não muito longínqua, uma realidade momentânea e, devo dizer, assustadora. Ao debruçar-me sobre as ideias que o filme retratava, comecei a pensar e, simultaneamente, comecei a questionar-me. Poderemos considerar a clonagem uma nova concepção de vida? Será mais uma prova de evolução do Homem? Representará “duplicar” uma alternativa a “reproduzir”? Será mais fácil lidar com clones humanos, réplicas de um só indivíduo ou com a diferença, que caracteriza cada canto do nosso mundo?
A verdade é que as réplicas não são tão exatas assim. Ou seja, um clone perfeito pode ser idêntico à pessoa a ser clonada, relativamente à identidade genética, que é definida pelas características comuns. Mas, terá ele a mesma identidade específica? Se ao clonar uma pessoa for considerado que o clone se trata de um gémeo com alguns anos de diferença, o clone será idêntico ao indivíduo que lhe deu origem a nível físico. No entanto, nascerá noutra época e viverá outras experiências, pelo que poderá vir a ser bem diferente do ser clonado.
Por estes motivos, é de facto possível clonar a componente biológica do indivíduo, mas não a sua personalidade. Porém, isto não impede que um clone não possa vir a ter sérios problemas de ordem psicológica e conflitos de identidade, devido às grandes semelhanças com o doador do DNA.
Nos dias que correm, cultiva-se a ideia segundo a qual alguns homens podem ter um domínio total sobre a existência dos outros, chegando ao ponto de programarem a sua identidade biológica. Penso que esta concepção seletiva apenas provocará uma grave quebra cultural e social. Além do mais, a diferença é o que torna um ser humano pessoa e é essa diferença que caracteriza cada um, porque só essa diferença faz mover o mundo. Como podemos nós projetar um plano que apaga aquilo que nos torna únicos no futuro? Afinal, que direitos são esses que um homem tem sobre outro homem? Que poder pode existir em não ser livre de pensar, de agir? Simplesmente penso que não existe qualquer vantagem em fazer uma cópia humana com o propósito de utilidade ou necessidade de outro alguém. Não é correto.
Na minha opinião, é essencial não esquecer que a investigação científica é digna pelo facto de procurar meios para beneficiar a humanidade. Ora, é igualmente importante saber qual a fronteira entre o benefício e o incerto, tal como os riscos de uma incerteza tão grande como o dia de amanhã.
A prática destes novos avanços científicos causaria efeitos negativos nos nossos relacionamentos, bem como a perda da variabilidade genética e, inevitavelmente, terminaria com o mistério da individualidade humana. Isto leva-me a crer que o mal da grandeza ao nível da ciência se deve a situações em que a consciência se separa do poder que as novas descobertas conferem ao Homem.
Porém, eu questiono: Qual a consideração que devemos ter por esse poder, que prejudica interesses morais, os quais orientam a humanidade, quando comparado com a evidência da verdade em cada um de nós, naquilo que somos e na nossa existência? É urgente lembrarmo-nos de uma ideia fundamental: de que todos os homens são úteis à humanidade, pelo simples facto de existirem na sua autenticidade e nada deve contrariar isso.
Maria Oliveira
Acho interessante o teu ponto de vista acerca desta matéria.
ResponderEliminarAcho que tens uma opinião muito bem estabelecida sobre este assunto e eu concordo em muitas coisas que abordas, principalmente quando dizes "que todos os homens são úteis à humanidade, pelo simples facto de existirem na sua autenticidade e nada deve contrariar isso", eu gostei muito dessa frase.
Tens razão! Mas é preciso não esquecer que, apesar dos medos e dúvidas que possamos ter relativamente à investigação no campo da genética, ela é, sem dúvida, a ciência do futuro. Basta imaginar que poderemos vir a conseguir a cura para as mais graves doenças que afligem a humanidade, para olharmos a genética por outro prisma. Isto não significa contudo que não devem haver limites. É um trabalho que está a ser feito, ainda que o consenso seja, naturalmente, difícil de alcançar...
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